A poética-política dos outdoors
Por Vladimir Oliveira.
O conjunto de fotografias apresentadas pelo fotógrafo e artista visual Péricles Mendes, notabiliza dois interesses em sua investigação no campo da fotografia: o fascínio pelo urbano e mais recentemente, pelos dispositivos de comunicação publicitária – outdoors. No ensaio fotográfico Subtraídos tais suportes midiáticos são resignificados por meio de poética na qual resquícios culturais midiáticos são integrados a uma paisagem alterada pela expansão urbana/rural.
Considerando o desmantelamento deste meio publicitário que irrompe na paisagem urbana, o artista define pelo ato fotográfico uma poética de subversão do discurso midiático feito de “palavra-imagem” veiculado pelos outdoors, retratando a incapacidade persuasiva deste massivo signo de comunicação. Configura um jogo “poético-político” no qual produz imagens (fotografias) de imagens (outdoors), sendo que aqui a fotografia, que pelo seu discurso histórico de representação do real é fortemente cobiçada pela publicidade, assume uma lógica inversa, na medida em que serve como dispositivo de captura de seu contrário, exatamente o apagamento das “imagens-fotografias” visibilizadas pelos outdoors.
Para capturar suas imagens o artista envereda por autoestradas do estado da Bahia com seu automóvel, mas ao contrário do “olhar de passagem”, da “paisagem em movimento”, aspectos sustentados pela noção da “sociedade do automóvel” em que os vidros dos veículos são similares a uma tela de TV, onde tudo passa em fração de segundos, o artista precisa parar e caminhar, contemplar, enquadrar e capturar seus outdoors em desaparecimento. Na busca de eternizar pela fotografia o que está por desaparecer, Péricles Mendes, ao captar imagens de outdoors desprovidos de propaganda, reivindica um retorno à contemplação cognitiva da paisagem, prática escassa na contemporaneidade, ao mesmo tempo em que denuncia a usurpação de um espaço público.
Em termos artístico-políticos sua série aproxima-se também de tendências como a Billboard Art e a Culture Jamming, que utilizam o outdoor de modo a promover um discurso sócio-político, de paródia, alteração e interferência nas mensagens de mídias comerciais, obstruindo sua comunicação. Desta maneira, a série Subtraídos revela em zoom, momentos de quase silêncio, anulação, desmanche e sumiço do profuso apelo midiático dos outdoors, desvelando um elemento urbano que integra, como destaca o historiador francês Michel de Certeau (1995), o “imaginário da cidade”¹, ou melhor, a linguagem, o discurso do imaginário que se multiplica, circula por todas as nossas cidades e que colocados no “jardim fechado do cartaz”, não cessam de falar de felicidade. Trata-se de um vocabulário de imagens no labirinto de imagens que constitui a cidade contemporânea, uma paisagem de cartazes que organiza nossa realidade. Situando em suas fotografias o outdoor em relação “a” e “com” a paisagem, Péricles Mendes com sua ação fotográfica poético-política, “furta”, lembrando que o termo “subtrair” também exprime a ideia de furtar, com seu “olhar-câmera”, restos, lascas, recortes, palimpsestos de um texto não-verbal que se espalha em escala macro pela cidade, fonte informacional rica em estímulos criados por uma forma industrial de vida e de percepção.
¹ CERTEAU, Michel de. A cultura no Plural. SP: Papirus, 1995.
The poetics-politics of billboards
By Vladimir Oliveira.
The set of photographs presented by the photographer and visual artist Péricles Mendes, highlights two interests in his investigation in the field of photography: the fascination for the urban and, more recently, for the advertising communication devices - billboards. In the photographic essay Subtracted such media supports are resignified through poetics in which media cultural remnants are integrated into a landscape altered by urban/rural expansion.
Considering the dismantling of this advertising medium that erupts in the urban landscape, the artist defines through the photographic act a poetics of subversion of the media discourse made of “word-image” conveyed by billboards, portraying the persuasive incapacity of this massive sign of communication. It configures a “poetic-political” game in which it produces images (photographs) of images (billboards), and here photography, which due to its historical discourse of representation of the real is strongly coveted by advertising, assumes an inverse logic, insofar as it which serves as a device to capture its opposite, precisely the erasure of the “image-photographs” made visible by the billboards.
In order to capture his images, the artist travels along highways in the state of Bahia with his car, but unlike the “passing glance”, the “moving landscape”, aspects supported by the notion of the “car society” in which the windows of vehicles are similar to a TV screen, where everything passes in a fraction of a second, the artist needs to stop and walk, contemplate, frame and capture his disappearing billboards. In the quest to immortalize through photography what is about to disappear, Péricles Mendes, by capturing images of billboards devoid of advertising, claims a return to the cognitive contemplation of the landscape, a scarce practice in contemporary times, while denouncing the usurpation of a public space.
In artistic-political terms, his series is also close to trends such as Billboard Art and Culture Jamming, which use the outdoors in order to promote a socio-political discourse, of parody, alteration and interference in commercial media messages, obstructing their Communication. In this way, the series Subtracted reveals, in zoom, moments of near silence, cancellation, dismantling and disappearance of the profuse media appeal of billboards, revealing an urban element that integrates, as the French historian Michel de Certeau (1995) emphasizes, the “imaginary of city”¹, or rather, language, the discourse of the imaginary that multiplies, circulates through all our cities and that, placed in the “closed garden of the poster”, never cease to speak of happiness. It is a vocabulary of images in the labyrinth of images that constitute the contemporary city, a landscape of posters that organizes our reality. Situating the billboard in his photographs in relation to “to” and “with” the landscape, Péricles Mendes, with his poetic-political photographic action, “steals”, remembering that the term “subtract” also expresses the idea of stealing, with his “look -camera”, remnants, splinters, clippings, palimpsests of a non-verbal text that spreads across the city on a macro scale, an informational source rich in stimuli created by an industrial way of life and perception.
¹ CERTEAU, Michel de. Culture in the Plural. SP: Papirus, 1995.