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Linha verde, BA

Descartáveis

 

A série fotográfica Descartáveis consiste em um ensaio sobre os impactos das desovas de veículos nas paisagens de Salvador ao serem despejados no meio ambiente. No recorte dado à pesquisa, as fotografias exploram os veículos roubados no perímetro urbano e abandonados em áreas de proteção ambiental (APA) após serem depenados para venda de peças ou participarem de atos ilícitos. As carcaças, resquícios de tais ações violentas, contrastam com a paisagem natural ao fundo, instalando uma atmosfera ambígua onde se entrecruza uma serenidade tropical (a mata, a luz) com os dejetos de um de estilo de vida, na qual o consumo excessivo é normatizado, incentivado, uma vez que os automóveis se tornaram símbolos de ostentação social e econômica, embora seu destino nas imagens aqui revele o quanto é supérfluo.


No ensaio a construção do olhar se deu ao analisar campanhas comerciais relacionadas com a ideia de “liberdade” e fantasia proporcionada pelo ato de conduzir/adquirir um veículo, constatando-se sua inserção na sociedade como um objeto de desejo e consumo. Fabricado em larga escala, vem se tornando cada vez mais descartável, todavia as transformações na urbe decorrentes das políticas de incentivo ao consumo do automóvel são perpetuadas no espaço/paisagem. A construção de vias de rodagem, viadutos, estacionamentos, túneis, etc., acabam transfigurando a cidade em uma metrópole enviesada por vias de passagem, interferindo diretamente na relação entre o indivíduo como pedestre e o seu espaço (cidade) de deslocamento. O ato de flanar pela cidade a fim de conhecê-la como local de identidade e pertencimento tem se tornado um comportamento inviável, pouco frequente entre os transeuntes que vão de encontro à modernização dos meios de locomoção individual.


A relação entre dispositivo fotográfico e as carcaças fotografadas propõe a reproduzir de modo realista, ainda que sofra distorções específicas da linguagem fotográfica, características das imagens de publicidade, como saturação, uso de luz artificial (flash de preenchimento) e cores mais quentes e contrastadas para exibir uma “beleza”. Entretanto, com a função de subverter, apresentar o lado distópico dos discursos publicitários. Romper com o universo lúdico e sedutor das propagandas que engendram harmonia entre o ato de conduzir um carro novo e contemplar a paisagem através do para-brisa repleto de tecnologia limpa e eficiente. Desse modo, me aproprio destes artifícios imagéticos com a intensão de revelar uma paisagem carcomida, usurpada pelo desejo do consumo e transgredida por uma política de mobilidade que favorece ao automóvel.

Disposables

The photographic series Discardables consists of an essay on the impacts of vehicle dumps on Salvador's landscapes when they are dumped into the environment. In the cut given to the research, the photographs explore stolen and abandoned vehicles in environmental protection areas (APA) after being plucked for the sale of parts or participating in illicit acts. The carcasses, remnants of such violent actions, contrast with the natural landscape in the background, creating an ambiguous atmosphere where a tropical serenity (the forest, the light) intersects with the waste of a lifestyle, in which excessive consumption is normalized , encouraged, since automobiles have become symbols of social and economic ostentation, although their fate in the images here reveals how superfluous it is.


In the essay, the construction of the look took place when analyzing commercial campaigns related to the idea of ​​“freedom” and fantasy provided by the act of driving/acquiring a vehicle, verifying its insertion in society as an object of desire and consumption. Manufactured on a large scale, it has become increasingly disposable, however the transformations in the city resulting from policies to encourage car consumption are perpetuated in the space/landscape. The construction of roadways, viaducts, parking lots, tunnels, etc., end up transfiguring the city into a metropolis skewed by passageways, directly interfering in the relationship between the individual as a pedestrian and his space (city) of displacement. The act of wandering around the city in order to get to know it as a place of identity and belonging has become an unfeasible behavior, infrequent among passers-by who go against the modernization of individual means of locomotion.


The relationship between the photographic device and the photographed carcasses proposes to realistically reproduce, despite suffering specific distortions of the photographic language, characteristics of advertising images, such as saturation, use of artificial light (fill-in flash) and warmer, more contrasted colors to display a “beauty”. However, with the function of subverting, presenting the dystopian side of advertising discourses. Break with the ludic and seductive universe of advertisements that engender harmony between the act of driving a new car and contemplating the landscape through the windshield full of clean and efficient technology. In this way, I appropriate these imagery devices with the intention of revealing a worm-eaten landscape, usurped by the desire for consumption.

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